Depois da polémica do ano passado, surgida quando se começou a invocar o direito à imagem ou questões de privacidade e protecção de dados para instituir o direito a assistir às aulas online de câmara desligada, este ano parece predominar, pelo menos para já, algum bom senso nesta questão.
Na verdade, todos reconhecemos que uma das principais razões da menor eficácia das aulas à distância é a falta da presença física que existe na sala de aula e que facilita e enriquece as interacções que se estabelecem entre alunos e professor. Sendo as câmaras o elemento que nos permite, ainda que distantes, vermo-nos uns aos outros, faz algum sentido, do ponto de vista pedagógico, que elas estejam permanentemente desligadas?
Quanto às questões de imagem e privacidade, convém lembrar que as aulas virtuais ocorrem, em regra, dentro de plataformas seguras, acessíveis apenas ao público restrito a que se destinam e cumprindo a regulamentação nacional e internacional em vigor nesta matéria. São usadas, sem problemas, por escolas e universidades de todo o mundo, bem como por empresas e organizações que certamente levam as questões de privacidade das suas comunicações e da protecção de informação sensível muito a sério.
De resto, não é difícil ao comum internauta aperceber-se de que a sua informação pessoal está muito mais exposta e é facilmente rastreável quando faz uma pesquisa no browser ou usa o email, por exemplo, do que a participar numa videoconferência. E nem isso nos coíbe de recorrer ao correio electrónico, fazer pesquisas no dr. Google ou navegar despreocupadamente nas redes sociais. Assim como a privacidade familiar é mais facilmente exposta se o aluno mantiver o microfone ligado – que apanha todos os sons à sua volta – do que com a câmara, que pode facilmente ser direccionada para captar apenas o aluno.
Tendo em conta o “perfil dos alunos” que geralmente se mostram mais renitentes em ligar a câmara – e o dos pais que os defendem no uso desse “direito! – percebe-se que raramente são as questões dos dados ou da imagem que os preocupam. Deixemos-nos de histórias: querem beneficiar de um serviço educativo levado até às suas casas graças ao esforço e dedicação dos seus professores. Mas não estão dispostos a cumprir o mínimo que há a esperar da sua parte, como comparecer pontualmente e com compostura, assistir e permanecer atentos durante toda a sessão, disponíveis para participar sempre que solicitados.
A exigência das câmaras ligadas é feita em defesa dos alunos, sobretudo dos à partida menos motivados, como forma de melhor garantir o bom aproveitamento das aulas online. Que os professores, é bem sabido, ganham o mesmo ao fim do mês, quer os alunos aprendam ou não aprendam. São o seu brio e profissionalismo que os levam a insistir, mesmo em circunstâncias difíceis, naquilo que sabem ser as condições mais propícias ao ensino e à aprendizagem. Oxalá os alunos, e as suas famílias, sejam capazes de o reconhecer.