Como professor de História, dispenso bem o desvelo paternalista com que o ME pretende instruir os professores portugueses na arte de bem ensinar o Holocausto. Uma matéria que consta, há décadas, dos programas da disciplina, integrada no tema mais vasto da afirmação dos fascismos europeus e da II Guerra Mundial.
Mais: não me agrada esta cedência ao lobby do sionismo internacional e da indústria do Holocausto, na forma de directrizes para fazer a abordagem politicamente correcta do tema, pondo em causa, como quem não quer a coisa, tanto a sua integração curricular como a autonomia pedagógica dos professores no seu tratamento.
Aqui é altura de abrir um parêntesis para recordar que este e outros temas já não se incluem apenas na disciplina de História. Fazem também parte da Educação para a Cidadania, e aqui podem ser tratados por professores de qualquer disciplina. Ora uma das utilidades destas transversalidades curriculares, leccionadas por docentes que não dominam cientificamente todos os temas a tratar, é precisamente tornar os professores menos autónomos e mais inseguros – e como tal, mais receptivos à aplicação do que consta nos referenciais e nos guiões governamentais.
E por aqui chegamos ao cerne da questão: o ministério que quer incentivar o estudo do Holocausto e de outros temas que promovam a paz, a tolerância e o respeito pelos direitos humanos é o mesmo que diminui o tempos lectivos da disciplina de História. Ausente do currículo da esmagadora maioria dos alunos do Secundário, reduzida a uma presença de 90 ou 100 minutos semanais na maioria dos anos do 3.º ciclo, a História que hoje se consegue ensinar e aprender fica muito aquém dos ambiciosos programas e objectivos que se estabelecem para a disciplina. Haverá tempo para debitar uns temas avulsos, ao sabor das modas, dos lobbies e das cartilhas ministeriais, mas não para desenvolver o pensamento estruturado e o raciocínio crítico que dão verdadeiro valor e utilidade à História. Se calhar, é mesmo isso o que se pretende…