Maria de Lurdes Rodrigues foi a sinistra “ministra da avaliação” do primeiro governo de Sócrates, a socióloga das profissões que quis mudar de alto a baixo a profissão docente, num exercício de engenharia social que haveria de deixar marcas profundas, ainda hoje visíveis, entre os professores. Os quatro anos em que permaneceu à frente do Ministério da Educação acentuaram o chamado mal-estar docente e levaram a revolta dos professores e educadores a um estado nunca visto, que haveria de culminar, em 2008, nas maiores manifestações de sempre promovidas por uma única classe profissional.
Apesar da hostilidade em relação aos professores, MLR executou um programa político em grande medida consensual aos três partidos do arco governativo: tratava-se acima de tudo de embaratecer e domesticar uma classe que tinha tido até então apreciáveis níveis de autonomia profissional, que gozava de relativa consideração e prestígio social e que possuía um estatuto remuneratório que, não sendo propriamente generoso, pesava significativamente na massa salarial da função pública.
Após a passagem pelo governo, bem sucedida do ponto de vista do centrão governativo, a ex-ministra foi recompensada com a presidência da FLAD. Mas a benesse não durou para sempre, e MLR, cumprida a habitual travessia do deserto imposta a políticos desgastados e regressada à carreira universitária, volta a sentir-se talhada para altos voos. Embora a avaliação do seu desempenho profissional recente na instituição esteja longe de satisfatória, isso não parece ser impedimento para a candidatura ao mais alto cargo do ISCTE.
A escolha do novo reitor ocorrerá no dia 9 de Fevereiro, precedida de audição dos vários candidatos, e será feita pelos representantes dos professores, alunos e funcionários da instituição e da sociedade civil. Entre Lurdes Rodrigues e os outros três candidatos, venha o Conselho Geral do ISCTE e escolha.