Para gastar como?
Cursos de formação sem empregabilidade nem interesse, que o pessoal frequenta apenas porque são remunerados?
Restaurar velhas casas de família para “turismo de habitação”, com subsídios a fundo perdido, sem quaisquer intenções de vir a receber hóspedes?
Registar as terras em nome dos filhos, receber subsídios para “jovens agricultores” e renovar a frota familiar de jipes?
Planear novas autoestradas, aeroportos, plataformas logísticas e outras “obras estruturantes” que nunca chegam a sair do papel? Ou, quando se concretizam, em vez dos prometidos benefícios, apenas deixam um rasto de despesismo inútil, corrupção e aumento da dívida?
Infelizmente, já tivemos muito más experiências neste capítulo da injecção de dinheiro fresco na nossa economia, gasto sem critério, muitas vezes de forma fraudulenta e em consumos improdutivos.
Nem é preciso sair do sector da Educação para perceber como o subfinanciamento e a indefinição de prioridades se conjugam para fazer prevalecer aquilo a que tenho chamado uma cultura do projecto: não se faz o que precisa de ser feito, mas o que se pode, na forma de projecto, candidatar com sucesso aos fundos europeus.
Se é certo que o país, com uma dívida superior ao PIB, não aguenta mais endividamento, também é verdade que os estímulos económicos não podem traduzir-se apenas em lançar umas pazadas de dinheiro sobre a economia real, prontamente capturadas pelos oportunistas do costume e sem efeitos duradouros no desenvolvimento do país ou na melhoria sustentada das condições de vida dos cidadãos.
Em vez disso, é necessário reforçar a estrutura produtiva, melhorar as políticas de rendimentos e emprego. Não jogar quase todas as fichas na monocultura da hotelaria e do turismo, mas apostar na maior diversificação das actividades económicas.
Em vez do consumo poluente, do automóvel individual, das auto-estradas, promover a ferrovia, o transporte público, as velhas e as novas formas ecológicas de mobilidade urbana.
Contudo, o maior investimento deve ser no capital humano: no ensino público e em formação profissional de qualidade, aumentando as competências e qualificações dos actuais e futuros trabalhadores. Mas sem sacrificar a formação integral dos cidadãos, nem instrumentalizar a educação ao serviço das exigências do mercado de trabalho.
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