“Vamos a Lisboa dizer que só não há dinheiro para quem trabalha – há milhões para banqueiros, parcerias público-privadas, indemnizações chorudas e ‘boys’ partidários, mas não há dinheiros para serviços públicos”, disse aos jornalistas o presidente do sindicato, André Pestana, em Coimbra.
O líder sindical, que falava em conferência de imprensa no final de uma reunião com comissões sindicais de greve do norte a sul do país, garantiu que a luta dos professores e profissionais de educação vai continuar e que o pré-aviso de greve em vigor até ao final de março vai ser prolongado até 16 de abril.
Parece existir um problema sério com o sindicalismo à moda do STOP, que tem passado despercebido por entre o efeito de novidade e o entusiasmo contagiante de muitos adeptos: é bom a tomar iniciativas arriscadas, a galvanizar uma classe que parecia adormecida, a ressuscitar forças que se julgavam definitivamente perdidas. Mas depois de organizarem a luta, o que não é fácil, falham no que por vezes se mostra bem mais difícil, que é conduzi-la eficazmente e sair dela airosamente: se não com uma vitória em toda a linha, pelo menos com algo mais do que se tinha inicialmente. Ora o que arrastamento da greve “por tempo indeterminado” nos trouxe foi a imposição de serviços mínimos num sector onde nunca tinham existidos. Ilegítimos, em face da atual lei, mas a verdade é que aí estão de pedra e cal. E a sua ilicitude ainda não foi confirmada por qualquer tribunal, não sendo sequer garantido que tal suceda.
Este radicalismo, que nos pode bem deixar em pior posição do que estávamos para lutas futuras, já foi evidente na greve às avaliações de 2018, embora a grande maioria não quisesse, na altura, ver o óbvio: o STOP antecipou-se aos outros sindicatos e lançou uma greve que não teve arcaboiço para levar avante – a greve às avaliações nos anos terminais de ciclo e nas disciplinas sujeitas a avaliação externa – e quis depois manter, por Agosto fora, uma greve interminável às reuniões de avaliação remanescentes.
Não foi a Fenprof que frustrou os planos da luta por os sindicalistas quererem ir de férias, como então se disse. Foi a quase totalidade dos professores que não se dispôs a continuar uma greve que estava a causar mais danos à classe do que ao ME. Foram os professores que se cansaram de uma greve que deixara de ter sentido. E sim, queriam ir de férias, o que depois de um ano lectivo longo e desgastante não é crime, mas sim o gozo de um direito de todos os trabalhadores, cuja retirada nenhum radicalismo sindical pode justificar.
Porque estou a relembrar guerras antigas? Porque o presente se começa a assemelhar a um passado ainda recente, nesta teimosia do STOP em manter uma greve mais prejudicial aos professores do que ao ministério que interessa visar. Ao não reconhecerem que a greve “por tempo indeterminado” já esgotou o seu objectivo estão afinal a seguir pelo mesmo caminho que antes criticaram a outros: o de fazer sempre o mesmo e esperar resultados diferentes. Numa luta sindical prolongada há que ser flexível e imaginativo, pois só assim se surpreende o adversário e mantém a mobilização do nosso lado. Não há mal algum em suspender hoje uma greve, se isso nos permitir amanhã, com reforçada ousadia, relançar a luta. O recuo tático perante um obstáculo é a forma de prosseguir a luta sem comprometer o objectico estratégico: a matriz ideológica trotskista de alguns dirigentes do STOP não os ajuda a perceber isto?
A verdade é que também não se percebe muito bem o processo de tomada de decisões no interior do STOP. Têm uma direcção, terão já alguns milhares de sócios, mas parece que as decisões estratégicas são tomadas em assembleias de autoproclamadas “comissões de greve”, um basismo que facilmente pode conduzir a luta sindical a um beco sem saída, quando se entrega a decisão de continuar a greve a um colectivo cuja missão se esgota na gestão dessa mesma greve.
Da prolongada greve às avaliações de 2018 resultaram mais perdas do que ganhos, nomeadamente mudanças no funcionamento dos conselhos de turma que retiram eficácia a futuras greves feitas nos mesmos moldes. Mas o STOP saiu-se, na altura, airosamente: era um pequeno sindicato, com meios muito limitados mas uma imensa dose de garra, generosidade e boa vontade. Segundo a narrativa que perdura, fizeram tudo bem, os outros sindicatos, grandes e maus, é que não ajudaram…
Em 2023, já não é bem assim. O STOP cresceu, a todos os níveis – e ainda bem, pois precisaremos sempre de sindicatos fortes e representativos – e a pequenez e inexperiência deixaram de ser argumento. Quando um sindicato decide fazer a diferença e destacar-se dos outros – no que foi acompanhado por dezenas de milhares de professores, há que reconhecê-lo – deverá estar preparado tanto para enaltecer as suas vitórias como para evitar erros de palmatória, afinando a estratégia da luta e mostrando-se à altura da confiança de tantos professores no novo sindicato.
Haverá evidentes dores de crescimento sentidas no interior do STOP, que só passarão quando este se assumir plenamente como aquilo que na realidade já é: um sindicato de média dimensão, do qual se espera que seja credível nas suas iniciativas e responsável perante os seus associados e a classe que representa.
… as greves não são a única forma de reclamar respeito. Por exemplo, o que vai fazer os professores desta escola, do agrupamento ou mesmo de todo o concelho, distrito ou região, https://www.jn.pt/local/noticias/porto/baiao/professor-agredido-a-cabecada-e-ao-pontape-por-aluno-em-baiao-16009596.html ?
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Não gostei de ler! Partilhei para os profissionais da educação, compreenderem que há colegas ou sindicatos que continuam agarrados aos “poleiros” e sentem-se abalados porque estão a ser ultrapassados e a cair! Não promovem a unidade da classe, promovem-se a si próprios em nome de uma só causa, o seu UMBIGO!
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Relativamente ao STOP: “… do qual se espera que seja credível nas suas iniciativas e responsável perante os seus associados e a classe que representa.”
É exactamente isso que também se espera e esperou da FENPROF ao longo dos últimos anos…
Que acções concretas foram encetadas? Que resultados foram obtidos? Porque “hibernaram”durante os 6 anos da Geringonça, quando, à partida, seria muito mais fácil demover o Governo, por via da inexistência de uma maioria absoluta parlamentar?
Há que dizê-lo com toda a frontalidade: a FENPROF tem sido, nos últimos anos, um verdadeiro fiasco, defraudando as expectativas dos seus supostos representados, talvez muito mais interessada em cumprir determinadas agendas partidárias do que em defender os interesses da Classe Docente…
E, neste momento, parece estar pronta para mais uma “finta” à Classe Docente:
“Secretário-geral da FENPROF falou em diploma de concursos melhor do que o previsto, mas que não era “o diploma que o ministro queria”. Reclama que é resultado da luta dos professores.” (Jornal Observador, em 17 de Março de 2023)…
Se não fosse trágica, esta afirmação de Mário Nogueira seria para rir alarvemente…
O STOP estará, por certo, a cometer erros, mas não se fosse esse Sindicato, que luta existiria neste momento?
E, já agora, também convém não esquecer que a FENPROF teve uma entrada titubeante na presente luta, sempre a “correr atrás dos prejuízos” causados por André Pestana/STOP…
Como exemplo disso, na primeira reacção à Greve por tempo indeterminado convocada pelo STOP, a maior Federação de Sindicatos da Educação, a FENPROF, considerou que aquele não era o momento adequado para se convocar uma Greve, com a justificação de que ainda estavam a decorrer negociações com o Ministério da Educação…
Contudo, e passados poucos dias, os mesmos Sindicatos que tinham considerado a Greve convocada pelo STOP como intempestiva e injustificada, acabaram por também convocar Greves parciais por Distrito e até anteciparam para Fevereiro uma Manifestação, inicialmente prevista somente para o mês de Março…
Mário Nogueira, que agora já “fala alto”, estava remetido ao quase silêncio, há praticamente sete anos…
Tenhamos a honestidade intelectual de reconhecer a verdade que os factos atestam…
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Muito bem! Tudo dito neste comentário, sem dúvida!!
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Concordo com o comentário.
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… com professores satisfeitos bastava uma pequena máquina sindical nacional de 30 pessoas (ironia). Os sindicatos vivem e alimentam-se de lenta contestação.
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Não tenho problemas em reconhecer que a concorrência entre sindicatos pode ser benéfica, quando estes competem no campo de bem representar a classe. Quer interpretando corretamente o sentir colectivo, quer propondo acções de luta exequíveis e eficazes.
Saudei aqui o STOP muitas vezes, elogiando o seu espírito combativo e inconformista, a verdadeira lufada de ar fresco que trouxe ao sindicalismo docente. Passou a ser possível construir algo de novo e diferente a este nível, sem ser apenas criticar a Fenprof e MN ou clamar pela Ordem dos professores…
Agora não me parece que nem o STOP nem qualquer outro sindicato devam merecer um cheque em branco e sem prazo de validade porque em determinado momento assumiram a liderança da luta dos professores.
As medidas, as iniciativas, as opções que se tomam e em que se persiste merecem discussão, sobretudo quando condicionam outras iniciativas que podem ter repercussões futuras para todos. Não para deitar ninguém abaixo, mas para possibilitar a discussão da qual, diz o povo, nasce a luz.
Por aqui preza-se a crítica construtiva, tanto quanto se desprezam os sectarismos…
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Também milita no MAS?
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Tudo dito.. parabéns
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