Dizia-se antigamente que quem dorme com crianças acorda molhado. Na Educação, e com a actual equipa de dirigentes ministeriais, pode afirmar-se algo semelhante: quem, não fazendo parte do círculo interno de amigos e protegidos, confiar neles, tem grandes probabilidades de se vir a arrepender. Servem-se das pessoas quando precisam, descartam-nas quando deixam de ser necessárias.
Vem isto a propósito dos professores que aceitaram o desafio de lançar, em tempo recorde, o projecto televisivo do #EstudoEmCasa. Apesar de tudo o que este projecto para os docentes envolvidos – acréscimo de trabalho, responsabilidade acrescida, exposição pública e mediática – percebe-se agora que trabalharam graciosamente: o ME assumiu que, já sendo pagos pelas respectivas escolas de origem, apenas teriam direito a receber as despesas de deslocação. Pagas, ainda assim, tarde e a más horas.
Confrontado com estas e outras queixas, o ME não se atreve a afirmar que os assuntos estão resolvidos – se assim fosse, que sentido fariam as queixas dos professores? – mas diz que estarão em vias de resolução. O que provavelmente significa que, perante o ruído mediático em ambiente pré-eleitoral, deram finalmente ordem aos serviços para desbloquearem os procedimentos.
Numa coisa o professor Filipe Ramos não tem razão: quando sugere que a participação no projecto, que foi globalmente avaliado como Muito Bom, deveria conduzir à atribuição desta nota, em sede de ADD, aos docentes que nele participaram.
Como se sabe, a avaliação do desempenho docente é enquadrada pelo Projecto Educativo, o Plano de Actividades e outros documentos orientadores ao nível da escola ou agrupamento. Quanto dezenas de milhares de docentes são todos os anos afastados das classificações ditas de mérito por via das quotas, tendo muitos deles participado em projectos exigentes e inovadores nas suas escolas, não faz sentido invocar uma situação que neste caso seria de excepcionalidade e privilégio relativamente a um projecto que transcende o âmbito da respectiva escola.
Dito isto, claro que a situação não deixa de sublinhar a incoerência, a arbitrariedade e a injustiça do actual modelo de ADD, que impede de reconhecer o justo mérito a iniciativas promovidas pelo próprio ministério, nem ao empenho dos profissionais empenhados no seu sucesso.