Paulo Prudêncio escreve, no Público, sobre o problema, já indisfarçável, da falta de professores. Uma reflexão rica e muito interessante, desde logo porque foge aos habituais lugares-comuns sobre o assunto, analisando-o no contexto mais vasto da experiência internacional – o que parece ser entre nós um problema novo, subsiste há décadas em países mais desenvolvidos – e das políticas económicas dominantes, assentes na desregulação, na precariedade, no agravamento das desigualdades e na promoção do individualismo, a par do enfraquecimento do Estado social.
Os mecanismos da economia informal com que se tenta reinventar o capitalismo no século XXI parecem estar a invadir paulatinamente a escola e as políticas de Educação. Assim como o vulgar cidadão pode fazer uns biscates como motorista, colocando o seu carro particular ao serviço da Uber, também a escola, a braços com a falta de professores qualificados, poderá recorrer, de forma pontual ou permanente, a quem quer que se disponha a vir dar umas aulas. Ou, à falta de melhor, a entreter os alunos.
O nosso colega identifica, bem, cinco sinais claros na origem deste processo: a degradação do estatuto da carreira e do sistema remuneratório, levando à perda de atractividade da profissão; uma avaliação de professores com quotas e vagas que dilacera o bom ambiente escolar, premiando o individualismo e promovendo o assédio laboral; uma escola a tempo inteiro que se transformou em educação a tempo inteiro na escola; um modelo autocrático de gestão norteado por interesses divergentes da missão da escola pública e combinado com um modo de agrupar escolas único na Europa; um ranking de escolas sempre “em progressão”. Estas não são decisões erradas deste ou daquele ministro: Paulo Prudêncio nota a inépcia e a inércia de sucessivos governos; eu iria mais longe e acrescento que tudo isto faz parte de um programa educativo profundamente lesivo da escola pública, seguido deliberadamente pelos vários governos em nome de inconfessáveis interesses. Um verdadeiro pacto educativo dos partidos do centrão, não escrito, mas que nem por isso deixa de ser levado a sério, e que se evidencia no Parlamento sempre que alguma proposta divergente ousa apresentar-se a votação.
Tudo isto está bem patente no mal-estar docente, que se respira nas salas de professores e nas redes sociais que estes frequentam. É a conclusão do artigo de opinião no Público, que os não-assinantes podem ler no Correntes – provavelmente o blogue mais antigo da blogosfera docente, que Paulo Prudêncio continua a alimentar diariamente.