As críticas, por vezes duras e nada simpáticas, que tenho feito a João Costa, o quase-ministro da Educação que, na inexistência política do titular da pasta, aparece frequentemente a dar a cara pelas políticas ministeriais, não me impedem de reconhecer o óbvio: foi oportuno e assertivo nesta defesa da escola pública das insinuações torpes do Patriarcado de Lisboa a propósito da pedofilia na Igreja Católica. Um problema de fundo desta instituição, que os seus responsáveis tardam em assumir, prevenir e combater.
As palavras de João Costa ganham um outro peso quando este se assume como católico: apesar dessa condição não se revê nem aceita a forma displicente como os responsáveis fazem tábua rasa das recomendações do Papa, nomeando comissões e simulando preocupações com a pedofilia ao mesmo tempo que tentam diluir por toda a sociedade as culpas e responsabilidades próprias. Para que, no final, tudo continue na mesma.
Relativamente às escolas, é bom lembrar que todos os profissionais da Educação têm de apresentar anualmente registo criminal comprovando que não têm cadastro relativo a condenações por abuso de menores. E que é justamente nas escolas, a par dos serviços de saúde, que são detectados a maior parte dos casos de abuso de menores quando estes não são reportados pela família às autoridades.
Ao longo dos seus quase dois mil anos de história, a relação da Igreja Católica com a sexualidade sempre foi complexa e contraditória. Se a proibição formal do casamento foi relativamente fácil de impor, já o voto de castidade se mostrou, para muitos clérigos, impossível de manter. Ora este empurrar da sexualidade dos padres para o campo do oculto e do proibido pode abrir caminho a variadas perversões. No ambiente fechado de colégios religiosos e seminários ou nos esconsos das sacristias, muitos abusos terão ocorrido e poderão continuar a acontecer: esta é uma realidade documentada em vários países onde o assunto mereceu amplo debate e investigação e as vítimas ganharam confiança e coragem para denunciar. Em Portugal, há quem prefira tentar tapar o sol com a peneira, colocando lama na ventoinha e tentando convencer- nos de que no pasa nada…
Por uma vez que seja, palmas para o João Costa!
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