Acrescente-se aos factores que favorecem o crescimento deste mercado educativo, porque a notícia não o faz, as dificuldades de acesso à profissão a que são condenados os professores mais jovens, que encontram nos centros de explicações a alternativa de emprego que o ME não lhes proporciona nas escolas públicas.
O DN tenta lançar luz sobre um submundo que, apesar de presente no quotidiano de muitas famílias que recorrem a explicadores particulares, ATLs e centros de explicações para assegurar o acompanhamento extra-escolar dos filhos, estamos longe de conhecer na sua real dimensão. Por exemplo, ninguém poderá assegurar a exactidão das estimativas que apontam para cerca de 250 mil alunos a terem algum apoio deste tipo. Desde logo pela simples razão de que a maior parte dos explicadores o farão a título particular, sem passarem recibos nem declararem o exercício da actividade.
Entre os depoimentos, há duas ideias que cumpre destacar. Primeiro, a dimensão do fenómeno das explicações atesta as profundas desigualdades e insuficiências do nosso sistema educativo público, resultado de décadas de desinvestimento. Que funciona razoavelmente bem com alunos motivados, organizados e progressivamente autónomos e responsáveis pela sua própria aprendizagem. Mas falha estrondosamente na missão, não menos importante, de apoiar os alunos com mais dificuldades, mobilizando os recursos necessários para que estes consigam ter algo mais do que um sucesso académico fictício. Aqui, as explicações podem fazer a diferença entre um aluno que recupera e segue o seu caminho e outro cujo percurso escolar vai ficando irremediavelmente para trás. Ou entre o que consegue a entrada num curso superior do seu agrado e o que se vê obrigado a desistir precocemente dos seus sonhos e objectivos.
Em segundo lugar, a elevada procura de explicações reflecte um ensino secundário demasiado orientado para a realização de exames e, pior, onde estas provas se tornam determinantes no acesso ao ensino superior, sobretudo nos cursos mais pretendidos. Um sistema de ingresso organizado pelas universidades aliviaria esta pressão excessiva que recai sobre os alunos do secundário.
Subjacente a tudo isto, há um paradoxo de que pouco se fala, mas se torna cada vez mais pertinente: como se explica a melhoria consistente nos resultados educativos, atestadas por sucessivos testes internacionais, num país que tem feito investimentos modestos na Educação, onde as políticas educativas têm sido erráticas, contraditórias e mesmo os consensos políticos, quando existem, se formam em sentido contrário às necessidades sentidas nas escolas, pelos alunos e os professores no terreno? A meu ver, dois factores têm contribuído para este moderado sucesso da escola e dos alunos portugueses. Um deles são as muito diabolizadas retenções, que foram permitindo que um sistema de fracos recursos, mas constantemente pressionado para o sucesso, não baixasse demasiado a fasquia educativa. Outro é, claramente, o mercado das explicações, presente em praticamente todo o país, com oferta adaptada aos diferentes públicos, incluindo famílias de modestos recursos, e capaz de cobrir uma parte significativa das carências da escola pública – e de muitas privadas também.
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