Jorge Paiva, um dos mais conhecidos e talvez o decano dos biólogos portugueses ainda em actividade, fala sobre a importância da educação ambiental. Em entrevista ao Sinal Aberto, confessa alguma desilusão por não sentir ainda, ao fim de uma vida inteira dedicada ao estudo e à preservação das espécies, a consciência ambiental necessária para obviar à extinção das espécies, às alterações climáticas e a outras mudanças que estão a destruir o mundo que iremos legar às próximas gerações.
A verdade é que, embora as questões ambientais tenham ganho peso nos currículos e nas práticas escolares, há ainda uma distância demasiado grande entre o que se diz, escreve e ensina e o que efectivamente se interioriza e põe em prática.
Com a lucidez e assertividade que lhe conhecemos, Jorge Paiva denuncia a sociedade consumista como o principal obstáculo a uma efectiva mudança de políticas e práticas do quotidiano, de modo a tornar sustentável o futuro do planeta. Na hora da verdade, os critérios que impõem o lucro a curto prazo tendem sempre a levar a melhor sobre as metas ambientais. E muitos dos avanços que se têm feito em relação à sustentabilidade ambiental só se tornam possíveis na medida em que se convertem eles próprios em negócios lucrativos.
Perante a inoperância dos políticos actuais, subordinados à agenda dos grandes interesses económicos, sublinha-se a importância de educar as novas gerações, na esperança de que possam, um dia, fazer a diferença. Nas questões ecológicas e ambientais como em tudo o resto, a escola pode ser um interveniente decisivo. Mas não conseguirá operar sozinha as mudanças que quase todos entendemos como necessárias. Sem as necessárias reformas económicas e políticas, as “mudanças de mentalidade” serão incapazes de, só por si, transformar a sociedade.
Ficam alguns excertos da entrevista e a habitual sugestão de leitura, aos interessados, do texto integral.
A Educação ambiental existe nos programas de Ciências Naturais, 3º ciclo, e de Biologia e Geologia, 10º/11º anos, desde 2001. Foi especificada com as metas (objetivos curriculares mínimos claros e mensuráveis), em 2013, que orientou a elaboração dos manuais no sentido do desenvolvimento da literacia científica e a Educação para a cidadania, com destaque para a Educação ambiental para a sustentabilidade.
Com as Aprendizagens Essenciais, objetivos ambíguos que por englobarem inúmeras metas orientam para a dispersão, desapareceu tudo sobre sustentabilidade que incomoda o poder político: Impacto negativo da atividade humana no ambiente e saúde das populações humanas e de outros seres vivos.
O pior está para vir- os manuais em adoção do Grupo Porto Editora, acentuaram estes cortes- Eliminaram dos manuais os danos causados por barragens (com foco na erosão de praias e avanço de mar), desflorestação, incêndios, minas, pedreiras, resíduos urbanos e industriais, exploração de recursos nos mares dos Açores, drenagens de pecuárias e agricultura intensiva, construção em zonas de risco geológico, e muito mais.
Ficaram somente as que orientam para a necessidade de reconstruir para remover o amianto ou isolar o radão. Também deixam a ideia de que as raízes das árvores são nefastas porque provocam a meteorização das rochas- passeios.
As abordagens de ensino/aprendizagem deixaram de ser integradas e globais como orientam os programas disciplinares, de 2001, passando à biologia e geologia descritiva, com pormenores não estruturantes (Ex: chaves dicotómicas para rochas- séc XIX ou morfologia sistemas digestivos e outros de diversos animais…) marcados pelos programas com “A evitar”.
Como se não bastasse, eliminaram também as atividades que desenvolvem o pensamento analítico, crítico e criativo (metacognição), quando devidamente dirigido pelo professor, interagindo com todos os alunos, em grupo-turma, envolvendo-os a todos nas tarefas de aprendizagem- “Instrução Direta”. O método da “Instrução Direta” é segundo a OCDE e muitos outros estudos sobre eficácia no ensino o que mais melhora os resultados de aprendizagem- conhecimentos, capacidades e atitudes.
Os manuais do Grupo Porto Editora, usam as práticas da “Escola da Ponte” e da “Aula invertida” no extremo oposto da “Aula Expositiva” e muito afastados das abordagens moderadas e diversificadas da “Instrução Direta” – os alunos aprendem sozinhos/grupo a pesquisar, a ver vídeos, tutoriais, a fazer Quizzes, a discutir e consensualizar respostas em grupo- o professor só apoia. Fazem muitas cópias, resumos, reflexões e apresentações.
Os autores do manual da Areal Editora, do Grupo Porto Editora, do manual em adoção, em 2021, que cortou tudo o que denuncia más práticas em gestão ambiental, saúde e segurança pública, são os mesmos, da edição de 2014. Ariana Cosme, protagonista das mudanças na educação em Portugal do “Governo Geringonça” e atual orienta o Grupo Porto Editora.
Valham os manuais do Grupo Leya, com destaque positivo para a Texto Editora, em educação ambiental, mas sobretudo em educação para a literacia científica, necessária à cidadania participada e à mobilidade social (aumento da produtividade/inclusão e coesão sociais). A Santillana Editora, com manuais eficazes no desenvolvimento da literacia científica e da Educação para a cidadania não avançou com novas edições em 2021. Porque será?
O “Governo Geringonça” e o atual dizem promover a literacia científica e a Educação para a cidadania que inclui a Educação ambiental, mas na verdade estão a fazer tudo para a desfazer.
Porque será?
Os resultados TIMMS, dos alunos de 4º ano, de 2019 desceram, os lugares das escolas públicas em 2020 também.
Porque será?
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