Vai-se tornando mais nítido o contraste entre a actuação pronta e decidida do Governo na primeira fase da pandemia, que com medidas duras mas eficazes conseguiu conter o avanço das infecções dentro de números controláveis, e a actuação errática e hesitante que está a ter agora.
O relativo sucesso do primeiro confinamento conduziu a um excesso de confiança que andamos, agora, a pagar caro. A prioridade à recuperação da economia é compreensível num país dependente e sobre-endividado, com pouca folga financeira para políticas orçamentais anti-cíclicas. Mas também é preciso perceber que é impossível a retoma económica enquanto não se reverter a situação calamitosa em que estamos a viver.
A trégua dos meses de Verão não foi aproveitada para prevenir a segunda vaga de contágios que, com a retoma das aulas e das actividades económicas no Outono, se tornaria inevitável. Quando se haveria de ter sido formiga, optou-se pela vida fácil da cigarra, e obviamente não estou a falar dos profissionais de saúde, que continuaram a dar o melhor de si mesmos, mas de quem deveria planear e antecipar o que aí vinha, reforçando em meios materiais e humanos as estruturas essenciais ao combate à covid-19 e preferiu quase nada fazer, confiando na sorte e no improviso.
Será que um irresponsável optimismo levou os responsáveis a convencer-se de que poderiam resolver o assunto com a chegada das vacinas anti-covid antes do Inverno e da segunda vaga da pandemia? Se assim foi, creio que o boneco do Henricartoon exprime, melhor do que quaisquer palavras, a situação em que hoje, com a situação epidemiológica completamente descontrolada – 80% dos contágios têm origem desconhecida – nos encontramos…