Os ingredientes sensacionalistas estavam lá todos e o engodo era, para muitos, irresistível. Psicóloga em videoconferência deixa o computador ligado no final da sessão. Alunos assistem às intimidades sexuais entre a psicóloga e o professor que a acompanhava. Segue-se a queixa de uma mãe escandalizada, a gravação a servir de prova e o inevitável processo disciplinar, seguido de demissão.
Julgo que foi o Correio da Manhã que deu a notícia em primeira mão, rapidamente replicada na imprensa “séria”, nas redes sociais e na blogosfera docente.
Passados dois dias, confirma-se que a notícia era falsa. Os esclarecimentos do advogado não deixam pedra sobre pedra relativamente à falsa acusação:
- O episódio ocorreu antes da videoconferência, numa altura em que a psicóloga, com problemas técnicos no seu equipamento, pediu ajuda a um amigo professor;
- Ao iniciarem a videoconferência, para verificarem que tudo funcionava, não se aperceberam que alguns alunos já estavam online, a assistir;
- As alegadas intimidades resumiram-se à despedida dos dois amigos, com um abraço e um beijo na cara;
- Houve efectivamente uma mãe que, sem nada melhor para fazer, gravou a cena e fez queixa na escola, originando um processo disciplinar que foi arquivado por falta de provas;
- A psicóloga já não está a trabalhar no agrupamento, não por ter sido despedida, mas por ter entretanto terminado o contrato.
Quando o público é pouco exigente, publicar notícias falsas e sensacionalistas pode aumentar as vendas nas bancas e os cliques no online. Para um jornalismo cada vez mais dependente da publicidade para sobreviver, isto torna-se determinante. Mas escrever mentiras, sem confirmar os factos nem ouvir as partes envolvidas, não deveria nunca ser opção para jornalistas profissionais.