…Na Europa medieval, os aristocratas gastavam o seu dinheiro sem qualquer critério em luxos extravagantes, enquanto os camponeses viviam frugalmente, contando os tostões. Hoje, os ventos mudaram. Os ricos têm imenso cuidado a gerir os seus activos e investimentos, enquanto os menos abastados contraem dívidas ao comprar carros e televisões de que não necessitam realmente.
As éticas capitalista e consumista são dois lados da mesma moeda, uma fusão de dois mandamentos. O mandamento supremo dos ricos é: «Investe!» O mandamento supremo dos restantes é: «Compra!»
A ética capitalista-consumista é revolucionária noutro aspecto. A maior parte dos sistemas éticos anteriores apresentava às pessoas um acordo bastante difícil. Era-lhes prometido o Paraíso, mas apenas se cultivassem a compaixão e a tolerância, ultrapassassem o seu desejo insaciável e a sua fúria, e controlassem os seus interesses egoístas. Isto era demasiado duro para a grande maioria das pessoas. A história da ética é um conto triste de ideais maravilhosos a que ninguém consegue corresponder. A maior parte dos cristãos não imitou Cristo, a maior parte dos budistas não conseguiu seguir o Buda e a maior parte dos confucianos deixaria Confúcio em desespero.
Hoje, pelo contrário, a grande maioria das pessoas está plenamente à altura do ideal capitalista-consumista. A nova ética promete o Paraíso na condição de os ricos se manterem gananciosos e passarem o seu tempo a ganhar mais dinheiro, e de as massas darem rédea solta aos seus desejos e paixões… e comprarem cada vez mais. É a primeira religião na história cujos seguidores fazem, realmente, o que lhes é pedido. Como sabemos que vamos receber o Paraíso em troca? Vimos na televisão.
Yuval Noah Harari, Sapiens, De Animais a Deuses (2013)
“É a primeira religião na história cujos seguidores fazem, realmente, o que lhes é pedido. ”
Parece confirmar-se.
Deve ser o que se chama de Felicidade.
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