António Costa e os 40 professores

Não será fácil, nos tempos que correm ser professor e socialista. Principalmente quando há que justificar, perante os colegas, a forma como o partido trata a classe docente. E como os trata também a eles. Sobretudo aos que ainda não trocaram a sala de aula pelo exercício de um qualquer cargo político ou administrativo de nomeação partidária.

Os professores do PS foram ontem notícia porque um grupo deles, não conformado com a “benesse” dos 2 anos, 9 meses e 18 dias prometidos pelo Governo, insiste na recuperação total, ainda que faseada, da totalidade do tempo de serviço. E pedem a António Costa que aceite reabrir um dossier que já tinha sido dado por encerrado.

Um grupo de quatro dezenas de professores que se afirmam militantes e simpatizantes do PS escreveu uma carta aberta ao primeiro-ministro para pedir a retoma das negociações sobre a contagem do tempo de serviço para efeitos de atualização salarial.

“Os subscritores apelam diretamente ao líder do PS e primeiro-ministro, para que retome, quanto antes, as negociações com os sindicatos, visando encontrar um compromisso que salvaguarde os interesses de uma Escola Pública forte e democrática, com professores motivados e qualificados, com uma carreira profissional valorizada, no respeito pelo Estatuto da Carreira Docente, pela Lei do Orçamento do Estado de 2018 e coerente com a Resolução 1/2018 da Assembleia República aprovada pelo PS e pelas forças de esquerda no parlamento, que aconselham o Governo a recuperar integralmente o tempo de serviço dos professores portugueses, sem o que se assinala uma absurda incoerência e desonestidade políticas”, lê-se no documento.

O texto integral, disponibilizado no Facebook, não é muito esclarecedor acerca dos objectivos e das intenções, que quero acreditar serem boas, destes colegas. Haverá, no grupo dos quarenta, gente com peso político e influência bastantes para pressionar eficazmente o primeiro-ministro? E se assim é, porque esperaram pelo desfecho das negociações para intervir, em vez de se terem feito ouvir mais cedo? Alguma coisa não bate certo com esta “carta aberta”.

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O que se percebe é a vontade de limpar a imagem de um partido que, mais uma vez, afronta os professores. Afinal, à imagem do PS-mau, o partido austeritário e inflexível do somos-todos-Centeno, contrapõe-se agora a figura do PS-bom, encarnada por professores-como-nós, profissionais e cidadãos preocupados com os direitos da classe docente, tentando mostrar que, graças a eles, nem tudo estará perdido para os professores. Afinal, sugere a mensagem subliminar presente neste tipo de factos políticos, a salvação dos professores poderá estar, não nos outros partidos, nos sindicatos ou nos tribunais, mas dentro do próprio PS.

Os quarenta militantes e simpatizantes socialistas prestam assim um bom serviço ao seu partido. Já quanto aos professores, o melhor é esperar – sentado! – para ver o que daqui sai…

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