A comunicação social tem-nos mostrado, até à exaustão, a imagem dum Presidente da República que, ao contrário do cara-de-pau que o antecedeu na função, não receia misturar-se com o povo. Incansável, gosta de dar e receber afectos, de ouvir e falar com toda a gente. Mesmo quando, justiça lhe seja feita, as palavras que têm para lhe dirigir nem são as mais simpáticas.
Marcelo não costuma impor barreiras aos que desejam aproximar-se dele. Contudo, se o objectivo é interpelar o Presidente, não para pedir uma selfie, mas para dar conta de queixas e reivindicações, cuidado: pode ter de sair do local escoltado pela polícia em direcção à esquadra mais próxima. Como ainda ontem sucedeu na Aula Magna da Universidade de Lisboa.
Polícias na universidade a perseguir e a deter estudantes “promotores de manifestações”: eis um número clássico no tempo da ditadura, que ao fim de 44 anos de democracia ainda continua a ser representado com sucesso. Numa cidade universitária perto de si…
Mais recente e mais importante do que a lei que costuma ser invocada perante as manifestações ditas “não autorizadas” é a Constituição da República Portuguesa. Aí, o direito de manifestação está consagrado em termos que não permitem às polícias ou ao Ministério Público tratar como presumível suspeito qualquer grupo de pessoas que se reúna num espaço público para manifestar as suas ideias. E não, não é preciso pedir autorização!…
Artigo 45.º
Direito de reunião e de manifestação
1. Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização.
2. A todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação.
Como não me consta que a polícia costume visitar os campus universitários para identificar os organizadores das praxes, mesmo quando elas descambam em práticas vexatórias e vergonhosas, só se pode concluir que há uma actuação política e ideologicamente orientada, por parte das autoridades, em relação aos jovens universitários: podes divertir-te com praxes idiotas, mas se pensas em lutar pelos teus direitos, atenção: a Polícia está atenta e vigilante; podes vir a ter chatices…
Na homenagem académica a Marcelo, a verdadeira lição de sapiência não foi dada, afinal, pelo Presidente. Nem tão pouco pelo reitor, que aproveitou a oportunidade para desancar de alto a baixo a política do governo para o ensino superior. Foi um punhado de polícias anónimos que mostrou claramente até onde vai a tolerância do regime em relação aos estudantes irreverentes e desalinhados.
Jovem desalinhado também tem de cumprir. Se lhe pediram para se identificar, só tinha de o fazer.
Cansado destes heróis de resistência pós-moderna que ainda acabam a servir o tachismo nacional.
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Aceito quer o rapaz, perante a solicitação, devesse identificar-se. O que contesto é que a polícia lhe peça a identificação sem motivo válido. Se o fazem só porque sim, então também deveriam identificar os “promotores” das praxes degradantes que nesta altura proliferam em redor das universidades. E que também não comunicam previamente, ao que julgo saber, o ajuntamento de caloiros e “doutores”.
Percebo que a malta nova ande desorientada neste mundo em mudança acelerada, mas olho para as mensagens que os poderes públicos lhes andam a passar acerca dos comportamentos que são ou não aceitáveis, e fico preocupado.
Como professor de futuros universitários, devo mesmo levar a sério o novo “perfil do aluno”? É que afinal de contas o rapaz que exerce o seu “pensamento crítico”, embora se limitasse a debater argumentos e em momento algum tivesse faltado ao respeito ao Presidente, no fim tem de se identificar à polícia. Mas o que cumpre a praxe e, em nome da “integração”, segue a manada, com esse está tudo bem…
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Um caso não absolve o outro.
Por outro lado, não é uma simples manifestação. Está ali o PR. É verdade que somos um país de brandos costumes (como se pode ver pelo “post” que produziu depois deste), mas, dada a figura em questão, acho até normal o pedido de identificação .
A questão das praxes é um assunto diferente, que começa nos alunos, passa pelas faculdades e acaba nos governantes.
Mais: creio qye a disciplina de Cidadania deveria fazer parte do “curriculum” do superior.
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Bem observado. E como é timbre de A .Duarte, bem fundamentado.
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