O regresso das moradas falsas

filipa-lencastreQuando se exige a morada fiscal para confirmar que o aluno vive na área de influência da escola pretendida, o que farão os pais mais persistentes e determinados em que os seus rebentos frequentem determinada escola pública? Já se adivinhava…

Pais mudam morada fiscal para inscrever filhos na escola

Em vez de pensar no que fazer a seguir para dificultar a vida aos pais que, bem ou mal, pensam estar a fazer o melhor pelos seus filhos, era preferível enfrentar o problema de fundo: anda-se há demasiado tempo a alimentar a cultura dos rankings e o mito das escolas boas e das escolas más.

Alunos empenhados, pais com estudos superiores, classe alta ou média-alta, relativa homogeneidade dos grupos-turma: têm sido estes os factores decisivos a catapultar determinadas escolas para o topo dos rankings de resultados escolares e não as virtudes de uma qualquer “liderança” inspiradora ou “projecto educativo” fora de série.

Na verdade, toda esta polémica se reduz a uma coisa muito simples: uma escola é frequentada por muitos bons alunos e por isso apresenta bons resultados. O resto é a aplicação do velho adágio popular: se queres ser dos bons, junta-te a eles.

A solução do problema também não é difícil de compreender: se os alunos que querem ser bons não cabem todos nas escolas tidas por boas, do que precisamos é de multiplicar as boas escolas pelo país inteiro. O que implica planeamento, investimento criterioso e definição correcta de prioridades, dando mais a quem mais precisa.

Claro que é mais fácil dizer do que fazer, e isso é complicado para um ministério que se tem revelado melhor a mandar trabalhar os outros do que a governar com competência. Não será propriamente barato, embora custe quase uma ninharia se comparado com os “investimentos” a fundo perdido no resgate dos bancos. E já não virá a tempo de dar milhões de votos nas próximas eleições…

4 thoughts on “O regresso das moradas falsas

  1. Concordo plenamente com os dois primeiros parágrafos, colega A. Duarte! Já o resto do post parece-me que contradiz as ideias aí expostas…

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    • Julgo não me estar a contradizer. O que tentei mostrar, talvez não da forma mais clara possível, é a profunda contradição de um sistema que fomenta a competição entre escolas “boas” e “más” e depois tenta impedir as pessoas, na posse dessa informação, de fazerem tudo o que está ao seu alcance para colocar os filhos nas escolas que consideram ser as melhores.

      O resto também não me parece complicado: em termos de resultados académicos são os bons alunos, mais do que qualquer outro factor, que fazem as boas escolas. Mas se convencemos aqueles de que, indo para escolas “boas”, serão ainda melhores, então estamos a prejudicar irremediavelmente as escolas menos favorecidas e os alunos que as frequentam.

      Se tiver de sintetizar numa só frase, diria que é necessária uma política educativa que invista em todas as escolas, começando pelas que estão pior, de modo a que todas possam ser boas escolas. Desde logo porque todos os alunos têm direito a uma educação de qualidade. Só quando toda a gente tiver condições para confiar na escola pública mais perto de si é que acabarão as guerras das matrículas…

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  2. Esqueceu-se de referir a fraude nos exames nacionais. Ou pensa que vários colégios não praticam a fraudezinha?

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