Quem quer fazer a agenda da Fenprof?

Declaração prévia: o facto de ser sindicalizado, há longos anos, num dos sindicatos da Fenprof, não faz de mim um seguidor acrítico e incondicional das posições sindicais. Que criticarei e critico sempre que tiver razões para isso. As páginas deste blogue sempre estarão abertas a visões dissonantes acerca do sindicalismo docente, dentro da pluralidade e confronto de ideias que aqui procuro cultivar.

Dito isto, não posso ficar indiferente a uma narrativa que se tem propagado ultimamente, segundo a qual a Fenprof e de uma forma geral os sindicatos afectos à CGTP estariam adormecidos nas suas reivindicações e alinhados com a agenda política do governo que por razões de estratégia político-partidária lhes interessaria defender.

Seria até uma leitura com alguma lógica da actual situação política e dos delicados equilíbrios que mantêm em andamento a famosa geringonça, para desespero de muita gente, a começar por boa parte dos comentadores e analistas encartados que escrevem a nossa opinião publicada e que não lhe vaticinavam mais do que curtos meses de vida.

O problema é que não é verdade: a Fenprof tem-se mantido atenta e reivindicativa neste início de ano lectivo, divulgando as suas posições junto dos professores e em conferências de imprensa, pelo que, para dar credibilidade à tese do desaparecimento da Fenprof e do seu líder mais mediático, Mário Nogueira, houve que recorrer, táctica que já não é nova, ao blackout noticioso da maioria das iniciativas e posições de Fenprof.

Claro que se enganam sempre alguns incautos, mas a estratégia não parece estar a funcionar tão bem como se desejaria. O editorial de Paulo Baldaia sobre o Wally Nogueira teve resposta à altura, que obviamente não foi publicada online (recorte de imprensa recolhido no Blogue deArLindo):

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As iniciativas no plano judicial contra o ME, em defesa da legalidade do horário de trabalho dos professores do 1º ciclo, também destoam da narrativa da invisibilidade sindical, mas pelo seu potencial impacto já não poderiam ser ignoradas.

E hoje foi João Miguel Tavares, esse ícone cada vez mais desinspirado da direita gira que resolveu voltar ao tema do desaparecimento de Mário Nogueira como pretexto para mais uma diatribe anti-sindical, que é no fundo ao que tudo isto se resume: condenam-se os sindicalistas pelo seu radicalismo, quando aparecem a convocar greves e manifestações; mas criticam-se  igualmente se adoptam, perante um governo que os ouve e negoceia, uma atitude dialogante e contemporizadora que é a que melhor serve os interesses da classe, sem deixarem obviamente de defender os professores que representam.

Agora que está na ordem do dia a discussão do Orçamento de Estado, a Fenprof apresenta a sua análise e as suas propostas, disponíveis no site para quem as quiser conhecer ao pormenor. Quem se contentar com o boneco explicativo, aqui o tem, realçando cinco exigências dos professores que o OE deste ano continua a não contemplar.

Ou seja, e como se diz em sindicalês, a luta continua!

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