O antigo vice-presidente de Rui Rio na Câmara do Porto, que se tornou nos últimos anos um dos rostos mais conhecidos do discurso anti-corrupção, foi um dos candidatos que retocou o nome, intercalando um “de” entre o nome e o apelido que acaba por o definir apropriadamente como um candidato “de morais”. Um moralista, portanto.
Porque interessa perceber que aquilo de que Paulo Morais fala não é propriamente de crimes concretos de corrupção, mas antes da promiscuidade entre a política e os negócios, da falta de transparência na administração pública, de leis feitas à medida de determinados interesses.
O discurso populista e moralista de Morais, partindo de um pressuposto que é hoje consensual, a existência na política portuguesa de um ambiente que favorece a corrupção, acaba por seguir o caminho perigoso e antidemocrático que leva a presumir que todo e qualquer político é corrupto e que a corrupção mina irremediavelmente as estruturas de todos os partidos. O que não é de todo verdade. “Eles” não são todos iguais.
Já dei mais crédito ao discurso de Paulo Morais, e acho que Francisco Louçã acertou em cheio quando perguntou há dias: “Porque é que Paulo de Morais se cala sobre a corrupção?” Pois o homem esteve na Câmara do Porto, onde constatou que havia corrupção, mas nada nos disse sobre quem corrompe ou é corrompido, o circuito do dinheiro, as contas bancárias, os valores e as decisões envolvidos. Militou no PSD, onde nos diz haver, como em todos os grandes partidos, corrupção, mas ainda não foi capaz de nos indicar um único culpado da sua prática. Até mesmo no caso do BES, Morais, que afirmou saber de tudo, uma vez mais, nos disse nada.
A corrupção combate-se com melhores leis, com mais transparência nos actos da administração pública, mas também com a denúncia vigorosa dos crimes e dos criminosos. Mas Paulo Morais usa-a apenas para nutrir a sua retórica demagógica, o que, sendo aceitável ao nível da conversa de café, é certamente muito pouco para quem pretende ser Presidente da República e centra a sua campanha, quase exclusivamente, no discurso anti-corrupção.